terça-feira, 26 de junho de 2007

Agostinho da Silva Comprou Vaca para Incentivar Processo de Certificação

Jornal «A GUARDA»
"Jornal «A GUARDA» - Edição de 21-06-2007"
SECÇÃO: Geral

“Carriça” pode ajudar a recuperar a raça jarmelista

Agostinho da Silva com a sua vaca Carriça, em Ima, Jarmelo

O presidente da Junta de S. Pedro do Jarmelo, Agostinho da Silva, acérrimo defensor do reconhecimento da raça bovina jarmelista, comprou uma vaca para contribuir para o processo de certificação que está a ser desenvolvido pela Direcção-Geral de Veterinária. O autarca que exerce a profissão de professor de artes numa escola secundária da cidade, decidiu cometer a “loucura” pelo “amor à causa da vaca jarmelista”.

“O objectivo é poder contribuir para o estudo que visa salvar a vaca da raça jarmelista, derivada da mirandesa, que está em vias de extinção na região da Guarda”, adiantou.

Segundo Agostinho da Silva, o processo de apuramento e certificação do animal está a ser desenvolvido desde 2004 pela Direcção-Geral de Veterinária em colaboração com a ACRIGUARDA – Associação de Criadores de Ruminantes do Concelho da Guarda, devendo estar concluído em 2014.

Para poder participar no estudo de uma forma activa, comprou a vaca em Fevereiro, por cerca de 1.500 euros, após vários meses a tomar conta do animal na exploração do antigo dono, na zona de Pinhel.

Ao ter conhecimento que o lavrador tencionava “desfazer-se” da vaca “Carriça”, o autarca propôs-lhe o negócio, mas o mesmo só se concretizou dez meses depois, pelo que durante todo este tempo “adoptou” a vaca e tratava dela como se fosse sua.

“O que me levou a perder a cabeça, foi perceber que uma vaca com quatro anos, bem tratada, poderia ser comida no restaurante dali por uns dias”, conta, adiantando que a “Carriça” foi salva da morte e está agora no estábulo dos pais, antigos lavradores residentes na aldeia de Imã, localidade anexa da freguesia de S. Pedro do Jarmelo.

Nascimento da cria está para breve

O animal já faz parte do grupo restrito de vacas que foi seleccionado para o processo de reconhecimento da raça bovina. “Está referenciada pelas entidades que estão com o processo de certificação da vaca jarmelista em andamento e já foi inseminada com sémen do banco de sémen que existe na ACRIGUARDA”, adiantou.

“Agora, estamos à espera que nasça a cria, o que deve acontecer em finais de Junho, para se perceber se está, ou não, dentro dos parâmetros que estão definidos para ser seleccionada”, salientou.

A “Carriça” tem cinco anos e o autarca acredita que não o vai “deixar mal” no processo por que tem lutado nos últimos anos e que, para além de cerca de três dezenas de vacas, envolve dois bois, também referenciados.

O processo de certificação “é moroso e complicado”, mas Agostinho da Silva acredita que “a raça da vaca jarmelista será uma raça com futuro”.

Para além do envolvimento da Direcção-Geral de Veterinária, a Assembleia Municipal da Guarda também deu um contributo para o processo de “restauração” da vaca típica da zona, em vias de extinção.

“No dia 27 de Abril de 2006, aprovou por unanimidade, uma proposta apresentada pela Junta de Freguesia de S. Pedro do Jarmelo, considerando a raça bovina jarmelista de interesse municipal”, recorda.

Na região da Guarda e, particularmente, na zona do Jarmelo haverá nesta altura 60 vacas da referida raça, mas como não é reconhecida oficialmente, “os produtores registam-nas como sendo da raça mirandesa, de forma a poderem receber os subsídios do Estado”, aponta o autarca.

“Se nada for feito, a raça das nossas vacas que é diferente da mirandesa, acaba por desaparecer devido à escassez de exemplares”, vaticina Agostinho da Silva. No entanto, pelas indicações de que dispõe, o Ministério da Agricultura “já decidiu atribuir uma verba de cerca de 200 euros, por cada animal”. Situação que, em seu entender, “pode servir de incentivo aos produtores, uma vez que um bovino tem um custo anual de manutenção de cerca de 500 euros”.

O pai do autarca, Joaquim Silva, um agricultor de 83 anos, um exímio conhecedor da vaca da raça jarmelista, afirma que “era a vaca mais corpulenta existente a nível nacional, era muito leiteira e muito bem perfilada”.

O animal desta raça autóctone é identificável pela sua cor acastanhada e pela franja comprida que pende sobre a fronte. “É uma vaca forte, com boa garupa, boa coluna e bons rins. Tem a cabeça larga, a marrafa grande, os quadris largos e a coluna desempenada”, descreve Joaquim Silva.
Reproduzido com a devida autorização

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