quinta-feira, 14 de junho de 2007

Alunos de Universidades e Politécnicos Desafiados a Desenharem Projecto do Museu da Cestaria

Jornal «A GUARDA» - 1ª Página
"Jornal «A GUARDA» - Edição de 31-05-2007"
SECÇÃO: Actualidade

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Gonçalo

Jornal «A GUARDA»A Junta de Freguesia de Gonçalo contactou todos os Institutos Politécnicos e Universidades do país a pedir apoio na elaboração do projecto do Museu da Cestaria que tenciona candidatar ao próximo Quadro Comunitário de Apoio (QCA).





“No ofício faz-se uma apresentação das características da nossa actividade, a cestaria, fazemos um enquadramento das dificuldades financeiras por que passamos no momento actual e pedimos colaboração naquilo que para nós é mais importante neste momento, que é a elaboração do projecto do Museu da Cestaria”, disse ao Jornal A Guarda o presidente da Junta de Gonçalo, Pedro Pires.


Segundo o autarca, “damos algumas indicações sobre a essência da funcionalidade que nós idealizamos para o Museu, no entanto, não queremos limitar a criatividade dos jovens arquitectos ou engenheiros que queiram interessar-se pelo projecto”.

Pedro Pires justifica o pedido de colaboração, considerando que a Junta de Freguesia tem dificuldades em “fazer face aos custos da elaboração de um projecto deste género e, porque queremos preparar-nos para o candidatar ao QREN, queremos conseguir ter um projecto rapidamente feito”. “Quando não há dinheiro tem que prevalecer a criatividade e é nesse sentido que pensámos que seria possível envolver as instituições de ensino superior deste país e, ainda esta semana, decidimos em reunião do executivo, alargar o leque de contactos e envolver os estabelecimentos de ensino superior de Espanha, nomeadamente da zona de Castela e Leão”, adiantou.

“É atirar a cana de pesca ao rio e ver aquilo que sairá”, disse o autarca em relação a esta iniciativa da Junta.

Junta idealizou Museu com formato de mala

Os arquitectos ou engenheiros que sejam receptivos ao apelo da Junta de Freguesia de Gonçalo terão liberdade total para desenhar o futuro Museu da Cestaria, mas o presidente da Junta, Pedro Pires, adianta que já possui uma ideia para a imagem da arquitectura.

Segundo o autarca, pretende-se que o edifício “seja igual a uma mala de forma” (cesto típico com duas asas por cima e quatro pernas para o suportarem). “Gostaríamos que o Museu tivesse essa forma para nos possibilitar que, no primeiro piso, que ficaria aberto, pudéssemos colocar uma plantação de vime, para explicar aos visitantes todos os processos por que passa o vime até ser utilizado na cestaria”, adiantou.

Para o futuro Museu, aponta também a criação de um espaço “onde gostaríamos de mostrar todos os modelos existentes (cerca de 150 peças) e fazer uma pequena biografia de cada peça”.

Como “ponto principal de atracção” do futuro espaço, o autarca salienta a existência de uma sala designada “Sala das Cadeiras e dos Poetas”. “Seria um espaço que conseguiria reunir o maior número possível de modelos de cadeiras em vime, associando a cada uma delas, a figura de um poeta nacional ou internacional, mostrando também como uma peça de artesanato rural pode, de alguma forma, juntar-se ao mundo da literatura, aproximando a arte tradicional com a verdadeira arte, para que possamos mostrar que a cestaria não é uma arte menor, ela própria é arte”, justificou.

Pedro Pires acrescentou que o número de pisos do Museu ainda não foi definido, “só temos a ideia, deixamos o resto à liberdade do criador”.

Aposta na vertente pedagógica

Segundo Pedro Pires, o futuro Museu da Cestaria de Gonçalo terá uma forte vertente pedagógica, apostando na interactividade com crianças e jovens, possibilitando que eles próprios sejam “cesteiros” por alguns momentos. “Gostaríamos que trabalhasse com crianças e jovens e possibilitasse que eles aprendessem a fazer cestos, ainda que simbolicamente, através de workshop`s”, disse o autarca ao Jornal A Guarda. “No fundo – acrescentou –, não queremos que seja um Museu estático, de contemplação, mas sim interactivo, que possa envolver o visitante e o possa colocar numa perspectiva de se enriquecer, aprender vendo e aprender fazendo”.

Frisou que uma das vertentes do espaço museológico será dirigida para a investigação, tendo em conta que a vila de Gonçalo foi o berço da cestaria em Portugal e, possivelmente, também em Espanha.

“Temos estado a estabelecer alguns contactos com um Centro de Interpretação de Artesanato de Vigo, onde há marcas muito evidentes da presença de cesteiros Gonçalenses, nomeadamente numa rua que tem mesmo o nome de Rua do Cesteiro e, onde ainda há descendentes desses portugueses em actividade”, salientou. Na sua opinião, o Museu do Cesteiro pode “aprofundar um pouco o conhecimento histórico da importância da cestaria de Gonçalo no contexto do País e da Península Ibérica”. “Hoje, sabemos que a cestaria surgiu em Espanha pela emigração de gente de Gonçalo.

Na Madeira, os estudos apontam que teve origem em Gonçalo. Há mesmo documentação histórica que fundamenta essa tese, enquanto que no caso de Espanha só agora estamos a dar os primeiros passos para descobrir o que efectivamente se passou”, adiantou o presidente da Junta de Freguesia de Gonçalo. Assim, uma das componentes do futuro Museu será “sempre a possibilidade de promover a investigação na área da cestaria”.


Por outro lado, Pedro Pires defende que a cestaria de Gonçalo “devia ter uma certificação que, de alguma forma, apontasse para uma identidade muito própria”. “É uma cestaria muito diferente daquela que se faz no resto do País e da Europa”, aponta. “Se calhar, faz sentido, na concepção do Museu, pensar num espaço e numa estratégia de investigação, para reunir algum material que poderá ser um legado para as gerações vindouras”, concluiu. Para dinamizar o futuro Museu da Cestaria, a Junta de Freguesia também considera importante que integre um espaço hoteleiro.

A vila de Gonçalo tem actualmente cerca de 200 cesteiros em actividade.
Reproduzido com a devida autorização

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