quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Penalobo (Pena Lobo) «A Origem»

"Jornal «A GUARDA» - Edição de 14-05-1999"
SECÇÃO: Geral
As nossas terras

Penalobo


Penalobo (Pena Lobo) é uma freguesia do conselho e comarca do Sabugal, distrito e diocese da Guarda.


Pertenceu ao antigo conselho de Sortelha até à sua extinção, em 24.10.1855, a partir de quando passou ao Sabugal. Foi sede de um Julgado de Paz.


Em 1839 pertencia à comarca da Guarda, em 1852, à da Covilhã e em 1878 à de Sabugal.


Localiza-se em terreno muito fértil, no extremo ONO do conselho (~16km), no seu limite com o da Guarda, no caminho para a freguesia de Pousafoles e Bendada e à distância aproximada de 19km das Quintas de S. Bartolomeu.

Tem por Orago S. Nicolau (de Pena Lobo). A antiga freguesia era curato anexo do provimento do Prior de Pousafoles do Bispo, no termo da antiga “Villa” de Sortellha, passando depois à freguesia autónoma com o título de vigaria (independente).

Compreende os lugares: Água da Figueira, Barcelos e Vale de Nicolau. Quinta de Carnicães de Vale de Nicolau (Vale de Nicolau-aqui, Nicolau, poderá ter sido o “dominus” estabelecido cujo nome aparece, muito provavelmente, em homenagem a S. Nicolau, difundido, na área e que o toma como padroeiro).

Refira-se, suscitamente, um pouco da sua hagiobiografia: S. Nicolau, em consequência do falecimento de seus pais, vítimas de epidemia, assume de muito novo a herança de avultados bens mas todos empregou em obras de caridade, designadamente dotando três moças orfãs e desamparadas, sem quaisquer meios de sobrevivência.

Toponímia e História

O abade de Miragaia, Dr. Pedro Augusto Ferreira (1833-1913), natural da freguesia de Penajóia (Lamego), de seu mérito, ilustre historiador eclesiástico, supõe que o nome Pena significa “penha” ou “penedo” (Ten. Etim. E Topon. II).


Efectivamente, todas as povoações, e inúmeras elas são, que tenham o vocábulo como elemento constitutivo normal ou como prefixo, parecem concluir essa etimologia assaz difundida por toda a Península Ibérica, se atentarmos um tanto na associação da orografia local e/ou na situação dos seus mais arcaicos defensáculos, nos ácumes rochosos de difícil acesso.


E podemo-la constatar na origem lácica, através de pinna-ae (ameia de muralha) e pinnaculum (cume, penáculo) (do lat. Pinum, celta penn, cabeça, cabeço, de que procederam e conforme alguma dedutibilidade, penedo, empena, penhasco, Peniche, Pináculo, Píncaro...).


Também existe o diminutivo medieval “peneia” < “pena” na mesma acepção que poderiam constituir objecto de doações (Dip. e Chart, n.º 81, séc. X), tratando-se evidentemente de fortificações acasteladas, alicerçadas em rochedos que lhes davam esse nome por bem compreensível semântica.


A confirmar a existência remota destas fortificações, a princípio reduzidas pode associar-se o desenvolvimento de uma nova área acastelada e amuralhada de casos, v.g. de Castelo da Pena (Sintra), de Penela (na estrada Coimbra – Tomar) e Castelo Mendo que reflecte as duas faces – a primeira reduzida, sobre o escarpado, em forma de joaninha e a posterior mais ampla, campaniforme, que abriga, ainda hoje, a maior parte da população e protegia a estrutura administrativa do antigo município), perseverando o topónimo Castelo. Penim ou peneia é também, desse mesmo jeito, um hipocorisma de Pene(a) existente na toponímia.


A associação de Lobo poderá advir do seu “dominus” e terá sido uma família assim denominada, na origem da evolução Lupus > Lobo >Lopes;


Sabe-se que o "locus" da Moita, nas imediações fora fundado pelo fronteiro Soeiro Pais, havendo notícia deste nobre no tempo de S. Sancho II (1223-1248) e que terá provindo já do tempo de D. Afonso II (1211-1223), transação que esteve na origem algo incontrolada de apossamentos e honras e objecto das subsequentes inquisições de D. Dinis.


Há notícia de que, em 1211, o casal Soeiro Pais e Loba Veiga doa ao Mosteiro de Salzeda o que tem em Palheiros (que, decerto, é o lugar da Lomba, antigamente assim chamado), para terem sepultura no Mosteiro, sendo admissível traçar-se desta influente família.


De interessante para a questão toponímica estará o nome de Loba (Viegas) que terá deixado a seu(s) descendente(s) estabelecido(sa), em princípio, em Pena (de) Lobo.


Do século XII para o XII (1203) aparece como alcaide de guarda D. Soeiro Viegas, podendo até existir alguma correlação atenta à forma como os apelidos e aposse de terras e courelas se praticavam etre gerações.

António Carreira Coelho
“Reproduzido com a devida autorização”

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