Descoberta Uma Ara Romana Decorada Com Um Touro
"Jornal «A GUARDA» - Edição de 12-04-2007"
SECÇÃO: Actualidade
Sabugal
Uma invulgar ara votiva da época romana, decorada em baixo-relevo com um touro e diversos objectos rituais, foi encontrada durante as obras de reabilitação de um edifício situado no Largo do Castelo do Sabugal.
Ara encontrada no Sabugal
A epígrafe “estava reutilizada na parede nascente do imóvel, com a face lateral esquerda virada para o exterior, tendo sido revestida de cimento caiado”, disse ao Jornal A Guarda o arqueólogo da Câmara Municipal do Sabugal, Marcos Osório, responsável pelo acompanhamento arqueológico da intervenção.
O achado que não está datado com clareza, exibe um campo epigráfico com a inscrição CRISPIN/VS CRIS/(…) [Crispino, (filho de) Cris (po?) (…)] e segundo o especialista, “apenas nos permite identificar o nome de quem terá erigido a ara, e de acordo com o esquema tradicional de filiação nesta região, o seu provável patronímico [o nome do pai] incompleto”.
No entanto, Marcos Osório observa que a “ilegibilidade do texto é colmatada com a riqueza decorativa das faces laterais da ara”, uma vez que possui um conjunto de figuras que representam um touro e diversos instrumentos sacrificiais.
O touro apresenta-se incompleto “disposto na vertical, virado para cima e com a cabeça representada numa perspectiva distorcida em relação ao corpo”, refere, admitindo que a presença do animal pode não ter uma relação directa com o carácter da divindade invocada na ara. “Poderá figurar apenas como vítima, pois era considerado a oferenda por excelência dos sacrifícios na religião romana, tendo sido abundantemente representado em moedas, esculturas, pinturas e baixos-relevos”, afirmou ao Jornal A Guarda.
“É curioso que a poucos quilómetros do Sabugal, no topo do Cabeço das Fráguas (Pousafoles do Bispo), exista uma inscrição num rochedo que regista o sacrifício de vários animais, entre eles o touro, a divindades lusitanas”, recorda.
No entanto, dado que a ara não regista a divindade à qual foi dedicada, Marcos Osório põe a hipótese de ter sido erigida em honra de Júpiter, a divindade máxima dos romanos. Essa possibilidade coloca-se, dado que na Península Ibérica se conhecem algumas aras, com touros esculpidos, dedicadas a Júpiter e tendo em conta que o touro era o animal mais importante para sacrificar ao, também, deus mais importante.
O arqueólogo estudou o monumento e publicou-o numa revista da especialidade.
Entretanto, ao contrário do que sucede noutros casos, a pedra vai voltar para a casa onde foi encontrada, pois o imóvel vai ter um cariz turístico e a proprietária pretende mantê-la no local e dar-lhe todas as condições necessárias à sua preservação e exposição.
“Reproduzido com a devida autorização”
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