sábado, 21 de abril de 2007

Dois Historiadores Desvendam Mito da Morte do Rei D. Sebastião

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"Jornal «A GUARDA» - Edição de 12-04-2007"
SECÇÃO: Geral

Investigador da Guarda envolvido no projectoJornal «A GUARDA»

Os investigadores Carlos d‘Abreu, residente na Guarda e Emilio Rivas Calvo, de Salamanca, Espanha), tiveram acesso a documentos que provam que o Rei D. Sebastião tombou no campo da batalha de Alcácer Quibir (Marrocos), em 1578, e que o seu corpo foi resgatado e transferido para Ceuta, onde permaneceu até ser trasladado para Portugal.


O investigador da Guarda
Carlos d’Abreu

O resultado da investigação, que será publicado no próximo número da Revista Cultural Praça Velha, editada pela Câmara Municipal da Guarda, leva os historiadores a defenderem, no seguimento da posição assumida por outros estudiosos, a abertura do túmulo de D. Sebastião e à análise das suas ossadas pelo método do ADN.

A batalha de Alcácer Quibir foi travada no dia 4 de Agosto de 1578 em Marrocos, tendo o exército português sofrido uma grande derrota frente aos mouros, que culminou com a morte do Rei D. Sebastião.

De acordo com o investigador Carlos d‘Abreu, a História refere, pelos relatos de Jerónimo de Mendonça, cronista de “A Jornada de África”, que “ninguém viu morrer o rei”, daí que tenha sido criado em Portugal um mito em torno do monarca. “A historiografia criou o mito sebastiânico, em como ele, não terá morrido no campo de batalha, que antes, desonrado pela derrota, terá partido e andado a vaguear por aí”, afirmou ao Jornal A Guarda.

Com a investigação iniciada em 2003, quando estava casualmente de férias em Ceuta, o historiador garante que D. Sebastião “morreu e o seu corpo foi resgatado do local da batalha”. Conta que durante o processo de investigação, realizada em colaboração com o investigador espanhol de Salamanca, encontrou documentos relacionados com a entrega do corpo do monarca português, no Archivo General de Simancas (Espanha). “A primeira reacção que tive foi que, eventualmente, os documentos não fossem verdadeiros”, conta, mas a sua autenticidade foi garantida pelos serviços do Arquivo.

Os historiadores tiveram acesso a vária documentação relacionada com o processo pós-morte do monarca que tombou na Batalha de Alcácer Quibir, sendo de destacar três deles: a acta da entrega do seu corpo em Ceuta (datada de 10 de Dezembro de 1578, que relata a recepção do corpo e a sua depositação na igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade); uma comunicação (emitida no dia seguinte) do embaixador do Rei Filipe II, a confirmar a chegada do cadáver a Ceuta; e um terceiro documento, uma carta do cardeal-rei D. Henrique a Filipe II onde “agradece tudo o que Filipe II fez em relação à recuperação do corpo”.

Carlos d´Abreu refere ainda que o corpo do monarca esteve em Ceuta até 1582, quando o rei Filipe I de Portugal “fez trasladar o corpo de D. Sebastião para Portugal e tumulou-o, bem como à sua família, no Mosteiro dos Jerónimos”.

Investigadores defendem abertura do túmulo e estudo das ossadas de D. Sebastião

Os dois investigadores defendem agora, à semelhança de outros, que o túmulo de D. Sebastião “seja aberto e se realizem análises de ADN do corpo do Rei e dos seus antepassados que também ali se encontram sepultados”. “Comungamos desta opinião porque achamos que a ciência deve ser posta ao serviço da verdade. Sendo eu um visitante do Mosteiro dos Jerónimos, sabia que existia lá um túmulo de D. Sebastião, mas não lhe dava importância porque a ideia que a historiografia transmitia era que o túmulo estava vazio, que era simbólico”, refere Carlos d`Abreu.

“Acho que isso deve ser feito. Se hoje a ciência nos dá essa possibilidade, por que razão, havemos de continuar a alimentar o mito? A quem serve hoje o mito?”, questiona.

No entender de Carlos d´Abreu, os historiadores que se têm debruçado sobre o estudo de D. Sebastião “foram negligentes, porque não se esforçaram por dissipar essas dúvidas que ainda hoje persistem”. “Dá a sensação que houve uma estratégia, montada por parte não sei de quem, no sentido de sonegar a informação contida nestes documentos que, por serem conhecidos por alguns historiadores, mesmo que poucos, não são por isso inéditos”, afirma ao Jornal A Guarda.
Reproduzido com a devida autorização

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